quinta-feira, julho 23, 2009

Hoje voltando do trabalho, me deparei com a árvore do canteiro em frente ao prédio em que moro desde os 5 anos.

Vi aquela árvore quando era apenas um brotinho e me divertia quando a regava de vez em quando. Considerava ela como uma espécie de "árvore de estimação". Me sentia responsável por ela!

Quando reparei nela hoje, senti algo estranho... hoje ela é várias vezes maior que eu e em nada lembra aquele pequeno arbusto. Foi um processo que mal percebi. Já havia reparado nela algumas vezes durante esse meio tempo de um par de décadas, mas dessa vez tive um insight que me fez sentir um estúpido por tê-la ignorado por tanto tempo e esquecido da beleza em admirar seu crescimento, seu florescimento, suas dificuldades, sua força e majestade. Como posso ser tão insensível em ignorar entes queridos?

Hoje percebi que preciso assumir mais responsabilidades. Não obrigações, mas sim responsabilidades.

terça-feira, julho 07, 2009

O Triunfo do Brasilidade

Este se trata de um artigo que fiz logo após a eliminação da Seleção Brasileira na Copa de 2006. Inicialmente, o fiz para o Campooubola, um site muito interessante de crônicas esportivas alternativas (tinha todo tipo de artigo, poesia, teses e curiosidades sobre o famoso esporte bretão), mas por algum motivo o site saiu do ar... logo, como o artigo ficou sem-teto, posto ele aqui no blog um pouco fora de data, apesar de continuar, no meu entender, completamente "dentro da validade".

Boa leitura!


Dia 02 de Julho de 2006. Começa mais um dia e os brasileiros saem para curtir outro domingo bucólico. Um domingo daqueles que limpam os céus da pátria, apesar de que, nestes, não voam mais as aeronaves da Varig (e os milhares que ficaram na mão). O que é certo é que as nuvens ainda pesam sobre nossas cabeças, por mais que as renitentes explicações do técnico Parreira sobre a eficiência estratégica de sua escalação (não percebida pela maioria dos terráqueos, nem na tática nem na prática) abafe os gritos de protesto de camponeses pobres em ataque ao Congresso. Abafa mesmo tantos escândalos discretos ocorridos na chamada "Casa do Povo", por mais que os camponeses tenham tentado realçá-los com suas palavras de ordem e ações.

Na verdade, o que este domingo nos convida é a trazer um bom chopp, com uma carninha no espeto [à época ainda não era vegetariano], para acompanhar nossos calorosos debates acerca dos acontecimentos do dia 01 de Julho. Podemos começar com os irresistíveis ataques à teimosia estúpida do "professor" Parreira e seu apego a fetiches por formas geométricas. Continuando, apontaríamos para inviabilidade dos "corôas" R. Carlos e Cafu em suas respectivas funções. Diríamos, ainda, que o "Fenômeno" foi procurar um SPA na Alemanha, e acabou encontrando uma copa do mundo, assim como concordaríamos que o "Gaúcho" não brilhou e que não correspondeu às nossas expectativas e à sua cotação no mercado. Contra o que mais poderíamos praguejar? Ah, tem o Zidane! Pelo menos, esse "corôa" mandou bem...

Se todas essas coisas já nos parecem evidentes, podemos tentar enxergar outros aspectos que dificilmente teriam espaço na grande mídia que cobre a copa. Como poderíamos explicar o desempenho apático da seleção no seu conjunto? Será que vale o velho argumento do "salto alto"? Talvez. Mas gostaria de chamar a atenção para fora das quatro linhas. Tiremos os olhos da Alemanha e por alguns instantes, atentemos para o nosso dia-a-dia. Toda a comoção despertada em torno desta copa me provocou uma certa inquietação. Já tinha consciência do histórico uso dos eventos futebolísticos para fins políticos. Sempre foi notório o envolvimento do povo brasileiro com o esporte, assim como o sistemático manejo político da simbologia do "brasileiro-bom-de-bola", para a construção da coesão nacional em torno da "pátria de chuteiras" e por cima das feridas de outras "pátrias" perdidas pelos cantos deste país.

Contudo, especialmente, na última década, esta relação ganhou contornos mais esdrúxulos quando foi alçada, definitivamente, à condição de mecanismo privilegiado de mobilidade social. O natural surgimento dos ídolos deixou de assumir o mero aspecto do entretenimento midiático, para ganhar um caráter mais sistemático na formação idiossincrática do povo brasileiro. Cada vez mais, as campanhas em torno dos destaques do esporte deixaram de ter como objetivo apenas construir a idéia de um povo alegre e espetacular, como seu futebol. Agora, outro aspecto começa a ganhar relevo: os ídolos não são mais apenas os craques com habilidades impressionantes, mas principalmente os consumidores ideais com seus carros, iates, relógios e mulheres. Os ídolos foram consagrados como exemplos de sucesso na luta pela ascensão social.
Num país onde as elites disseminam uma proposta de sociedade liberal, baseada no individualismo, mas sem uma base mínima material para dar alguma consistência a tal discurso, o único recurso é apelar para fabricações midiáticas de modelos que estimulem a juventude a apostar numa boa colocação no mercado de trabalho e não se perder em outras idéias desviantes deste caminho de sucesso. Projetos coletivos perdem terreno, ao passo que o espaço de críticas às disparidades sociais é preenchido por programas não-públicos de inserção de jovens na luta por um-lugar-ao-sol.

E foi a nata desta juventude que viajou até a Alemanha, para representar os demais que não tiveram tanto êxito e ficaram por aqui. Os grandes craques entraram em campo para brilhar, mostrar todo o seu talento e provar que merecem estar no topo. Não são relevantes as declarações formais de Parreira e de todos nós de que o espetáculo é secundário e o importante é ganhar, pois o que pesou na cabeça de cada jogador era o inconsciente coletivo exigindo nada mais do que aquilo que eles próprios ajudaram a disseminar durante tanto tempo: o mito da invencibilidade.

Não é a toa que, diante do fiasco do "quadrado mágico" (ou trágico), brilhou o "triângulo real" da defesa. A mistificação dos craques matadores e a intensificação da propaganda em torno deste esteriótipo criaram uma atmosfera grotesca de expectativas (sublimada pela pela euforia de um certo "orgulho nacional"), que paralisou os prodígios diante da responsabilidade colossal, construída numa proporção jamais vista. Aqueles escalados no time titular temiam arriscar e preferiram apostar num "feijão com arroz", na esperança de que, sendo o nível dos jogadores tão alto, seria suficiente para derrubar os adversários. Pelo menos, era o que absorvíamos da avalanche propagandística...

Quanto à galera do banco, lhes sobrava disposição de conquistar um-lugar-ao-sol, de forma que, quando entravam em campo, mostravam serviço. Porém, o espírito individual destes não poderia, por si só, reverter o espírito geral. E defato, toddo mundo achava que colocar Juninho e Robinho seria a solução; a "lógica" levava a crer que bastava trocar as estrelas. Terminou que o Juninho entrou como titular, e após ótimas apresentações iniciais, foi tragado pelo espírito geral. Sobrou para a discreta zaga cumprir seu papel longe dos holofotes e com traqüilidade, salvar o que se podia. Nesta defesa, passaram apenas dois gols... o detalhe é que um deles se deveu mais à preocupação de R. Carlos em ajeitar sua meia enquanto o time francês cobrava escanteio. Talvez, se Robinho tivesse entrado no início do 2º tempo, o resultado pudesse ter sido diferente... mas tal conjectura só demonstra duas coisas: 1) que talvez é talvez; e 2) que o treinador foi incapaz de aproveitar mesmo as soluções que ainda existiam em meio à mediocridade generalizada.

Não se esperava ver uma seleção, um time jogar... queríamos um espetáculo de astros milionários. Eram tantos e tão grandes ali juntos, mas era como se estivessem sozinhos diante de um vídeo-game e ao mesmo tempo, despidos num palco diante de uma platéia monstruosa.
Nestas condições, que vaga noção de nação poderiam eles representar? Ou, para ir mais fundo, que vaga noção de nação poderia nos representar? A surpresa de ver toda a seleção conseguindo acompanhar a execução do hino não surpreende tanto assim, pois corresponde apenas a um treinamento imposto para manter as aparências diante das câmeras. A recente massificação midiática das cores da bandeira, por sua vez, não passa de composição carnavalesca.

Mas, afinal, será que podemos reclamar mesmo da "firmeza patriótica" destes jogadores? Quem saberá, realmente, o que simboliza a bandeira verde e amarela? O que significam os seus dizeres? Em que contexto ela foi concebida e por quais pessoas? Que interesses elas tinham? Ainda poderíamos nos questionar mais: que aspirações efetivamente nos unificam em torno de qualquer coisa que seja? A falta de espírito dos jogadores da Nike não pôde competir com o troar da Marselhesa (mesmo que esta já não seja apropriada sob os mesmos propósitos dos que a entoaram durante a Revolução). Mas qual o espírito que cada filho-da-pátria, sentado do lado de cá da tela, tem demonstrado na defesa desta tão comentada nação?

Bom, mas não adianta chorar, né? O leite já foi derramado e o importante é que a Rede Globo tinha sua programação alternativa pro caso de uma inesperada derrota. Até os esquemas de rua montados para o festejo do triunfo da Brasilidade funcionaram assim mesmo sem a menor vacilação. Afinal, neste país, alguém tem que vencer! Contudo, talvez uma coisa nos deixe confortados neste momento: nossos bravos selecionados não dependerão dos vôos da Varig para retornar pra cá...aliás, o mais provável é que muitos não voltem tão cedo.