sexta-feira, agosto 24, 2007

poeta ferreiro

Derreto a matéria
Com o calor das fornalhas no peito
O ferro corre no sangue
Cada célula, metal em ebulição
O sólido agora escorre
Por canaletas que racham a pele
A vontade fria molda
O mundo metálico e plástico
E antes que algo tente
Assumir alguma forma
Os martelos golpeiam
Como sinos varando
As manhãs dos fiéis
Forjando o desejo
Em seu momento interminável

Eis a forma assumida
Durante um breve instante
Até que as chamas voltem a bradar
Por caos
Em brasas
Repousa o protótipo
A lâmina efêmera
Logo, sua superfície incandescente
Esquecerá o fogo que brotava
E terá o brilho perfeito refletido
Na beleza que é
Cruel
Para atravessar a carne confusa
Tenaz
Para suportar o ácido
Que se precipita na atmosfera
E trama a paz nas conversações

Assim medito minhas lâminas
Todas as manhãs
Com as tonalidades e formas
Mais estranhas
Com o siso esmagando
Uma pétala de rosa
Tento a leveza do samurai
Que atravessa entranhas
Sem marcas
Ao olho nu